Posses Das Ministras Sonia Guajajara E Anielle Franco Empoderam O Verdadeiro País
Sônia Guajajara é maranhense e líder indígena mais votada do país na última eleição. Ao tomar posse diante do presidente Lula e de uma grande plateia multidiversa, Guajajara também apresentou Joenia Wapichana, a nova presidente da Funai, que agora passa-se a se chamar Fundação Nacional dos Povos Indígenas. Em seu discurso, falou de sua origem e do que representa a sua nomeação: “Então hoje, eu quero dizer para vocês, que aquela Sônia que veio para estudar e trabalhar em casa de família como babá e doméstica… está aqui, nomeada para o cargo de Ministra de Estado dos Povos Indígenas do Brasil. Se estou aqui hoje, é graças à força ancestral e espiritual de meu povo Guajajara Tentehar, graças à resistência secular da luta dos povos indígenas do Brasil, graças também à minha persistência de nunca desistir. Ressalto também o apoio que recebi dos povos indígenas e da população do Estado de São Paulo que, pelas urnas, me elegeram Deputada Federal, afirmando a todos os brasileiros e brasileiras, que uma mulher é plenamente capaz de contribuir com a reconstrução da democracia neste país. Talvez muitas pessoas nunca irão entender o quanto este momento é significativo para mim e para nossos povos, talvez nem todas as pessoas que estão me ouvindo saibam que a existência dos povos indígenas do Brasil é cercada por uma leitura extremamente distorcida da realidade. Ou nos romantizam, ou nos demonizam.”
A criação do Ministério dos Povos Indígenas e a nova Funai, são sinais inequívocos do novo olhar que se dirige aos povos indígenas, e que inclusive começa pela mudança do nome do órgão (Fundação Nacional do Índio), passando a ser Fundação Nacional do Indígena, com a primeira indígena a presidir a Funai em seus 55 anos de história. Espera-se que os dois órgãos liderados por indígenas seja decisivo para avançar nas demarcações e acabar de vez com a ideia do marco temporal, que na prática anula todas as demarcações de territórios indígenas a partir de 1988, permitindo o uso das terras para exploração do Estado sem permissão dos donos da terra: os próprios indígenas.
A carioca criada no Complexo do Alemão, Anielle Franco, tem um trabalho social conhecido no Rio de Janeiro. Ela criou um instituto com o nome da irmã, Marielle Franco, brutalmente assissinada em 2018 e, desde então, tem se dedicado em pautas voltadas à igualdade racial, igualdade social, fim da violência policial e equidade de gênero.
Em seu discurso, Anielle Franco contextualizou a história e o racismo no Brasil. “Após quase quatrocentos anos de escravidão negra e 133 anos de uma abolição que nunca foi concluída, a população brasileira ainda enfrenta múltiplas faces do racismo que gera condições desiguais de vida e de morte para pessoas negras e não negras no País. Isso não pode ser esquecido e nem colocado de lado“, salientou.
A nova ministra da Igualdade Racial, enalteceu a ancestralidade e fez um pedido. “Nós temos um projeto de País e esperamos contar com vocês nessa construção. E é por isso que eu faço esse pedido a toda a população brasileira: caminhem conosco. Caminhem conosco nessa estrada por onde nossos antepassados caminharam e por onde os nossos filhos e filhas caminharão. Caminhem conosco até que os sonhos de nossas ancestrais se tornem realidade”, finalizou.
Foto de capa: Ueslei Marcelino/Reuters
Com informações da Agência Brasil e UOL.